Quando o Áudio Faz a Diferença

Os Sistemas de Conferência Shure facilitam a discussão de temas chave para o planeta.

15/11/2019 Quando o Áudio Faz a Diferença

A Assembleia Ambiental das Nações Unidas (UNEA) é o maior fórum mundial de alto nível para questões de meio ambiente, onde chefes de estado, ministros da pasta, ativistas e ONGs se reúnem para discutir e assumir compromissos globais com a proteção ambiental.

Fui convidado a acompanhar a equipe da Shure do escritório de Dubai que dá suporte a esses mega eventos na sede de Nairóbi, Kenya, no headquarter da ONU, no continente Africano.

Todo o complexo, com mais de 20 salas de conferência, que chegam a ter 4 mil reuniões por ano, possui os sistemas de conferência da Shure.

As salas de conferência 1, 2, 3 e 4, que são as principais, durante o ano funcionam como salas independentes e, quando combinadas, tem a capacidade de atender este importantíssimo evento da UNEA com mais de 2 mil pessoas que podem, cada uma, falar e ouvir tudo que acontece no ambiente.

Para que possamos entender o que é e o que faz um sistema de conferência, aqui vai uma breve explicação:

é um sistema em que suas unidades de conferência - e portanto os participantes da reunião - possuem um microfone e um alto falante para falar e poder ouvir os outros participantes.

No caso das unidades da ONU elas são configuradas no modo dual-delegate.

Adicionado à unidade de conferência, a ONU também possui as placas de identificação de nome (MXCSIGN) que permitem que a delegação de um país quando entra no grande salão encontre sua posição (ou assento) pelo nome na placa, que fica em ordem alfabética para fácil localização.

Todos esses componentes estão conectados, via cabos de rede, a uma central de controle (DIS-CCU) que fica no rack da área técnica e que determina como será o comportamento do sistema em cada reunião.

O poderoso software de gerenciamento do sistema (SW6000) é que determina como será o rito e todas as configurações da reunião. É a partir dele também que os técnicos/operadores podem programar agenda de eventos, votações, tempos de discurso, abrir ou fechar qualquer microfone do sistema e também programar as placas de identificação de cada delegação.

Para essa Assembleia, o modo de operação foi o manual, de forma que o presidente pode abrir e fechar o seu microfone e o de qualquer participante na sala. Os delegados, por sua vez, não conseguem abrir seu próprio microfone, eles precisam solicitar a palavra que pode ou não ser liberada pelo presidente.

Um dos grande desafios de uma reunião desse porte, com tanta gente, é manter a organização e o cronograma do início ao fim da mesma. Especialmente nos tempos de discursos.

No caso da UNEA, durante os discursos do presidente da França, Emmanuel Macrón, e do Kenya, Uhuru Kenyatta, não houve limitação de tempo de discurso. Para todos os outros participantes, foi determinado que teriam 4 minutos para discursar.

A questão era como fazer para avisar que os palestrantes estavam perto do fim do seu tempo, o que não foi problema já que uma licença CDA (Conference Display Application), parte do software SW6000, instalado em um laptop ao lado do púlpito, permitia que os palestrantes fossem notificados quando faltasse 1 minuto para terminar o tempo. Ou seja, quando o relógio atingisse 3 minutos, o mesmo ficava vermelho na tela avisando do fim do tempo, esse mesmo relógio estava na imagem que ia para a transmissão ao vivo no YouTube e para as gravações das sessões, ou seja, todos tinham exatamente o mesmo tempo para discursar.

Ainda assim, se o presidente quisesse permitir que algum palestrante tivesse mais tempo, ele solicitava à secretária que tinha no seu laptop uma outra licença CUA (Conference User Application) para que ela incrementasse o tempo de discurso.

Os incrementos podem ser programados da forma que for necessário, em segundos, ou minutos. Ao final do tempo de cada discurso, quando o relógio marca 4 minutos, o microfone é automaticamente desligado garantindo a igualdade de tempo a todos.

Outro desafio é como enquadrar e informar no vídeo o nome do participante que se encontra em determinada posição dentro da sala no exato momento em que ele tem seu microfone aberto.
Com um sistema de automação e câmaras robóticas trabalhando em conjunto com o sistema de conferência, eles se comunicam via comandos IP para que o sistema da Shure informe exatamente qual microfone está ativo para uma das câmeras que foi previamente configurada para captar aquele determinado assento. Esse sinal de vídeo ainda recebia do sistema de conferência a informação do nome do ministro ou de sua delegação que aparecia na parte inferior da tela junto com o tempo restante de discurso.

O presidente (chairman) e os diretores que estão na bancada gerindo a reunião possuem telas touch com lift, com feed do vídeo para visualizar quem está falando e, no caso do presidente, ele possui uma segunda tela com uma licença do CUA com possibilidade de incrementar tempos de discursos assim como uma visualização do diagrama pictográfico da sala (Mimic) permitindo que ele veja onde estão todos os microfones e rapidamente entender onde está posicionado na sala o delegado que tem o microfone aberto.

Ainda existe o desafio dos múltiplos idiomas. Uma reunião global desse porte tem na sua inteligibilidade e compreensão da informação (qualidade do áudio) um dos pontos mais sensíveis. São mais de 190 países membros da ONU participando da reunião.

É necessário que haja tradução simultânea para diversos idiomas, para esta conferência tivemos, inglês, espanhol, francês, russo, árabe e chinês e, em algumas sessões também o português e italiano.

Cada cabine de intérprete conta com 3 consoles de tradução em 8 cabines diferentes que pode receber até 3 intérpretes. 

Por norma, os intérpretes trabalham no mínimo em dupla mas para o caso de reuniões com diversos idiomas é comum ter 3 intérpretes já que cada um deles é especializado em determinadas línguas. No caso dos intérpretes não compreenderem o idioma do piso (floor) ele pode ouvir outro intérprete fazendo uma tradução para um idioma que ele compreenda e ele traduz a tradução, o que é chamado ‘relay interpretation”. Os intérpretes precisam estar muito focados, para o qual eles requisitam áudio de qualidade, silêncio, uma sala separada de descanso, visão clara do ambiente, um feed do vídeo para referência e visão lateral para as outras cabines.

No caso do sistema da ONU foi programado que, quando o microfone de algum intérprete está acionado, uma luz vermelha acende na porta do lado de fora para indicar que a tradução está acontecendo e que ninguém pode entrar para que ele não se desconcentre.

Os participantes da reunião podem escolher qual idioma preferem ouvir através dos seletores de canais, que são parte do sistema de conferência, instalados na parte de trás e da frente das mesas de cada delegação.

Para completar o cenário dessa grande reunião, com frequência não há lugares suficientes para todos os mais de 2 mil participantes sentados, então são disponibilizados receptores infra vermelhos (DR6008), permitindo que as pessoas possam ouvir as interpretações que são enviadas por 4 irradiadores (RA6025) que cobrem todo o ambiente.

Além disso existem funções variadas, como na abertura do evento, para a qual foi convidado um coral africano com percussão e teclados para dar as boas-vindas aos chefes de estado. Como essa informação só foi comunicada no dia, disponibilizamos microfones sem fio (ULXD2) para os vocais e percussão, e um lapela (ULXD1 + MX150) improvisado captando o speaker do teclado.
Todos esse canais sem fio são enviados e mixados pelo automixer (SCM820) da Shure via Dante e o operador só precisa se preocupar em receber os sinais de todo o sistema de conferência, mais os mics sem fio e os feeds de vídeo que podem ocorrer, e somar isso em uma pequena mesa digital para enviar o sinal de tudo que acontece para o PA, gravação, streaming, imprensa, etc.

A ONU também adquiriu o primeiro sistema de conferência sem fio (MXCW) do continente africano. São 50 unidades preparadas para reuniões em espaços diversos, já que as demandas dinâmicas são frequentes e solicitadas em cima da hora, então um sistema como este facilita muito a vida dos operadores locais.

Definimos o sistema e o combinamos com o sistema de conferência com fio, fazendo um sistema híbrido, para que fosse possível fazer até 6 interpretações nesse kit móvel.

Tudo isso com interfaces em rede (ANI4IN e ANI22) conectados via Dante à antena transceptora (MXCWAPT) do sistema sem fio.

Um evento tão grandioso não poderia ter um melhor desfecho que não fosse uma performance técnica perfeita.

Todo o sistema se comportou muito bem, sem falhas nem problemas. O que me fez crer que o segredo de qualquer projeto, no fim, é sempre um equilíbrio entre planejamento adequado, instalação bem feita, e manutenção em dia.

“Sistemas de conferência com inteligibilidade e qualidade são importantes não apenas para instituições globais como a ONU, mas para todo o planeta. É possível afirmar que, graças ao nível de compreensão entre diferentes nacionalidades e culturas, os países conseguem se compreender melhor em pro de algo que é benéfico a todos.”

 

*Artigo escrito por Didiê Cunha, Especialista Sênior em Desenvolvimento de Mercado da Shure.